Em 2018 foi lançado um romance sueco muito interessante tratando da imigração sueca ao Brasil principalmente no final do século XIX. Alguns pesquisadores estimam que o número de suecos que buscaram uma qualidade de vida melhor no Brasil foi um torno de 10 mil pessoas. O Consulado entrou em contato com o escritor Mats Erasmie para saber um pouco mais sobre a história do livro.
Conte-nos um pouco sobre você e sua história!
Mats Erasmie é administrador de empresas que fora de escrever trabalha como CEO do maior produtor de publicidade de Gotemburgo, o Lycky Punk. Ele também realiza treinamentos em vendas e liderança, tanto nacional- como internacionalmente. Gotemburgo é a cidade que Mats chama de casa, mas ele também passa bastante tempo em Stockevik, Tjörn, e adora navegar no mar com o barco, pescar lagosta e caçar.
Já publicou em torno de dez livros de não-ficção nas áreas de venda e marketing. A Caravana da Morte é sua estreia como escritor de romances e a primeira parte numa trilogia planejada com temas subjacentes como imigração, bem-estar e integração, onde Oberá em Missiones e o denominador comum.
Como é que um administrador de empresas da área de publicidade se interessou pela migração sueca ao Brasil e à Argentina?
Em 1901 um parente emigrou para a América do Sul. Depois de ter ficado um tempo no Brasil. na Antártida e ter feito carreira em Buenos Aires ele comprou terra em Oberá e fundou Villa Erasmie. Através do destino de vida dele, eu obtive contato com a história migratória inteira e todas as pessoas, cujo destino nunca foi contado em formato de um romance anteriormente.
Seu livro “Caravana da Morte” foi publicado em 2018 – como considera a recepção dele pelo público?
O interesse tem sido e continua sendo muito grande. O audiolivro ficou no sétimo lugar na lista dos mais vendidos na Suécia no ano passado e pessoalmente tenho dado, até agora, 41 apresentações sobre o tema. Também participei uma série de vezes na rádio e tive a oportunidade de espalhar conhecimento sobre o destino dos suecos no Brasil. Fora disso muitos leitores entraram em contato e compartilharam informações sobre as aventuras dos ancestrais.
Conte brevemente sobre o livro!
O livro conta a história do Arvid e Anna, dois jovens que pegam a “Febre Brasileira” e deixam Estocolmo em 1891. Sua luta de sobrevivência e para criar um futuro no novo país será longa e dura. É uma história de sofrimento, mas também da capacidade humana de encontrar momentos de alegria e vencer obstáculos que aparentam insuperáveis.
Em torno de 10 mil pessoas deixaram o reino sueco. Deixaram desemprego, pobreza, moradias precárias e opressão na esperança de um futuro melhor no Brasil, veementemente incentivados pelo movimento sindical e trabalhista e Hjalmar Branting. Em pouco tempo um terço morreu, outro terço voltando para casa novamente e os que ficaram lutando pela sobrevivência.
No “Caravana da Morte” o leitor também encontra o Johan, um fazendeiro da região de Jämtland, a costureira Lisa, cujo esposo é espancado até morrer já em Hamburgo. Também encontramos o filho deles, o Nils, que é um grande aventureiro e o anarquista Anton, que tem como objetivo criar um paraíso socialista, mas de preferência sem ele mesmo trabalhar.
O livro foi publicado em sueco até agora – existem planos de traduzi-lo para o português e/ou espanhol?
Posso dizer que isto é uma esperança. Seria muito bacana, se fosse possível fazer estas traduções. Agradeço, se alguém puder me dar dicas e/ou ajudar para fazer isto acontecer. Também encontrei um produtor/diretor de filmes bem famoso em Estocolmo e falamos sobre uma série de tv. Vamos ver, se dá certo.
Para quem lê o livro as semelhanças entre a situação que os migrantes deixaram para trás, em termos de pobreza e a esperança de uma vida melhor no Brasil, e os fluxos migratórios que vemos no mundo hoje em dia, por exemplo da África, Oriente Médio e da América Latina para o Ocidente. Como vê essas semelhanças?
Que legal que também percebeu isto! Durante o trabalho com a “Caravana da Morte” eu podia ler descrições em diários e cartas que se assemelham assustadoramente com o que ainda acontece no Mediterrâneo. A diferença é que 100 anos atrás tinha suecos no barco.
Uma das diferenças entre a migração para o Brasil naqueles tempos e a atual é que o migrantes anteriores foram ativamente recrutados em seus países de origem e o Brasil pagava a passagem de navio. Mesmo assim, a recepção relatada no livro não é das melhores e parece que faltava organização – por quê as autoridades brasileiras não recebiam melhor os migrantes?
O Brasil era um país politicamente caótico naquela época. Existiam grupos rebeldes, um governo mal definido, administração incompleta, várias moedas durante alguns períodos etc. A partir dessas premissas talvez possamos dizer que surpreende que não estava pior, mas isso seria uma péssima desculpa aos que foram afetados.
Por que o Brasil tinha agentes, entre outros na Suécia, para ativamente recrutar imigrantes para o país?
A escravatura só foi abolida em 1888, um ano depois veio a república e existia uma ambição para modernizar o país, tirar mais proveito dos recursos naturais e cultivar áreas maiores. Para fazer isto acontecer precisava de gente. Em algumas fontes existem insinuações indicando que os governantes queriam “brancificar” o país, importando mão de obra branca de todos os cantos da Europa.
Por que acha que existem tantas obras sobre a migração sueca para o EUA, mas poucos conhecem a onda migratória para o Brasil?
Basicamente por duas razões: mais do que um milhão de suecos chegaram aos Estados Unidos e mais ou menos 200 mil regressaram. Muitos suecos hoje têm parentes que fizeram essa viagem.
No caso do Brasil estamos falando de talvez 10 mil e muito poucos conseguiram voltar para a Suécia. Outra diferença é que os viajantes para o Brasil que conseguiram regressar não falavam das suas experiências. Talvez por se sentirem fracassados. Também não podemos subestimar os épos sobre os emigrantes do Wilhelm Moberg e os filmes fantásticos de Troell.
Como fez o trabalho de pesquisa para o seu livro? Você visitou pessoalmente os lugares mencionados no livro, entre outros no Rio Grande do Sul?
Visitei a área duas vezes, inclusive em Oberá. Um pouco do trabalho também foi possível realizar na Embaixada da Suécia em Buenos Aires. Com a ajuda de um grande número de pessoas eu também consegui achar cartas e diários. Achei um num website argentino, mas em espanhol e mesmo assim consegui achar um descendente em Visby, onde o encontrei em sueco. Sven Arne Flodell, o último pastor sueco na área, também tem sido de grande ajuda. Também preciso agradecer o Google e Google Earth.
Não podemos acompanhar todos os caráteres do livro até o final (entre outros o Nils) – isso quer dizer que terá uma segunda parte da história?
Sim, porque a minha ideia sempre tem sido produzir uma trilogia que nos leva até o ano de 1946. A segunda parte está pronta há um mês e será lançado no dia 21 de setembro, se o meu plano e o da editora der certo. Muitos leitores proibiram-me matar o Nils, então é óbvio que ele também aparecerá no segundo livro.
Quanto da história é ficção e quanto é baseado nas suas pesquisas?
Eu costumo dizer que que tudo que acontece no livro aconteceu ou poderia ter acontecido, mais ou menos como descrevo. A vantagem de escrever um romance histórico é que existe uma certa liberdade artística. As personagens são fictivas, na maior parte, mas inspiradas em pessoas reais. Os acontecimentos, destinos e aventuras de modo geral são reais.
Em 2026 terá a comemoração de 200 anos de relações diplomáticas entre a Suécia e o Brasil e com esta base a representação sueca no Brasil pretende apoiar iniciativas que aprofundam o conhecimento da história sueca no Brasil. Por isso esperamos que possamos ter o prazer de ver uma apresentação sua, assim que visitar o Brasil a próxima vez!
Também espero que dê certo – seria muito bacâna! Vou estar esperando um convite, hehe. Dia 21 de outubro vou fazer uma apresentação no Club Sueco em Buenos Aires.
Com certeza iremos convidá-lo a fazer uma apresentação em São Paulo também! Obrigado por ter respondido as nossas perguntas!
A entrevista foi realizada em sueco e traduzida para o português. A versão original é a em sueco.
Olá Vice Cônsul Peter!
Temos muito interesse em receber essa matéria, sobre a imigração sueca no Brasil, é claro que traduzida para o português ou espanhol.
Parabéns pelo seu interesse em conhecer e divulgar a história da imigração sueca no Brasil!
Nós descendentes ficamos muito honrados com sua iniciativa.
Abraço
Olá, meu nome é Sandrus N. Kokkonen Litter, meu avô Ingve Einar Kokkonen e bisavós, que eram finlandeses, chegaram ao Brasil junto com imigrantes da Suécia em 1910, eles moravam em Kiruna antes de se estabelecem em Porto Lucena/RS.
Provavelmente tiveram experiências semelhantes descritas em seu livro.
Obrigado por compartilhar um pouco da história da sua família, Sandrus!
Porto Lucena RS praticamente foi colonizado primeiramente por imigrantes Suecos, aos quais anos depois atravessaram o rio Uruguai e foram residir na Argentina principalmente na Vila Swea, em Obera Argentinas. Eu tenho tataravôs enterrados no cemitério Sueco na Linha Uruguai como também na Argentina.
Boa tarde,
obrigado por seu relato! Tive o prazer de conhecer o referido cemitério em 2019. Estamos fazendo esforços para resgatar esta história e apresentar num portal web para a comemoração dos 200 anos de relações diplomáticas entre os países em 2026.
Aproveito para desejar um bom fim de semana!
Boa tarde Sr. Peter.
Li seu post sobre a imigração sueca para o Brasil e para a Argentina.
Sou descendente de um sueco que veio ao Brasil para trabalhar numa fundição de ferro chamada Fábrica Nacional de Ferro São João de Ipanema, em Araçoiaba da Serra, São Paulo (ao lado de Sorocaba), pelos idos dos anos 1820 mais ou menos. Seu nome era Daniel Samuelson Strömbeck.
Era mestre em carvoaria. Essencial para a fábrica, que estava iniciando suas atividades, com a vinda de D. João e família para o Brasil e a abertura dos portos aos países amigos.
Ele ficou no Brasil e teve muitos filhos e descendentes.
Prazer em falar consigo.
Grande abraço.
Caro Clóvis,
que interessante! Estamos para fazer uma visita a este local com a comunidade da Igreja Escandinava em breve. Histórias assim são muito interessantes para o website que estamos desenvolvendo aos poucos no http://www.culturasueca.org.br.
Obrigado por entrar em contato! Espero poder ouvir mais da história numa outr oportunidade.
Abraços
Prezado Clóvis,
Como Clovis Antunes, que escreveu anteriormente também descendente de um sueco que veio ao Brasil, o Daniel Samuelson Strömbeck. Minha família ainda utiliza o sobrenome Samuel Strambeck, com essa grafía.
Foi muito interessante encontrar este artigo, porque sempre é muito surpreendente conhecer sobre essa história familiar e entender esse histórico.
Obrigada por partilhar.
trabalhar numa fundição de ferro chamada Fábrica Nacional de Ferro São João de Ipanema, em Araçoiaba da Serra, São Paulo (ao lado de Sorocaba), pelos idos dos anos 1820 mais ou menos. Seu nome era
Adoraria ler! Vou aguardar a tradução para o português. Precisamos reconhecer e agradecer àqueles que contribuíram pará a história do Brasil
Sou descendente (tetraneto) do sueco Daniel Samuelson Strömbeck que veio para o Brasil em dezembro de 1810.Ao todo vieram 14 suecos para trabalhar na Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, próximo de Sorocaba.Dos 14, somente meu tatarovô ficou no Brasil(casou com uma brasileira), os demais retornaram pra Estocolmo com o final do contrato com fábrica.
Existem documentos que relatam isso que mencionei.
Abraço.
Cláudio José Estrambek.
Tenho uma página no Facebook:Família Strömbeck Real Fabrica de Ferro São João do Ipanema pra aqueles que quiserem saber mais do sueco Daniel Samuelson Strömbeck.
Visitei a Fábrica no ano passado que hoje é um museu no municipio de Iperó.
Gostei muito desta matéria! Sou descendente de suecos, além de portugueses e italianos. Há pouco tempo descobri o nome de meus trisavós, seus pais e avós. Também tinham o sobrenome Johansson. Minha bisavó, Gärda Maria Johansson era casada com um gaúcho, Francisco dos Reis Lopes. Seus pais Ernst Viktor Johansson e Lovisa Josephina Johansson e por aí vai.
Que iniciativa fantástica! Nossa familia e decendente de Augusto Swenson, que acredito ter chegado criança no Brasil e se estabelecendo no interior de SP , entre 1880 e 1890, seu Pai Swen Persson e sua mae Ernestina, que faleceu durante a viagem para o Br.
acredito que o consulado poderia ajudar os descedentes a acessarem os registros dos seus antepassados, regioes de origens etc para ajudar a todos a conhecer a sua origem sueca .