O trombonista sueco Nils Landgren recentemente visitou o Brasil e fez um show no SESC Belenzinho em São Paulo por convite de Rubem Farias. O Consulado esteve no show e aproveitou para fazer uma entrevista com Nils e Rubem.
Nils, obrigado por nos conceder a entrevista. O que achou do show no SESC Belenzinho?
O show foi muito divertido mesmo com todos esses músicos fantásticos e a plateia maravilhosa.
Por que veio a São Paulo para fazer um show assim tão subitamente?
Rubem Farias me perguntou, quando gravei um trecho solo numa das músicas dele em Estocolmo.
Qual é a sua opinião do jazz atual brasileiro?
Eu não consegui tirar alguma conclusão definida ainda, mas o que eu sei é que existem muitos músicos bons e muitos trombonistas. Cheguei a conhecer vários deles durante um workshop na Universiade Souza Lima.
Você já tinha tocado anteriormente com Rubem Farias e os outros músicos do show no último domingo dia 11 de março?
Nunca, fora o solo que mencionei com Rubem.
O que acha de visitar do Brasil? Tem algum lugar favorito?
A razão pela qual vim para o Brasil agora foi que recebi o convite para fazer um show no Festival Música em Trancoso-BA e tenho sonhado em poder rever Trancoso desde 2009, quando fiz uma turné no Brasil com a NDR Bigband e João Bosco e pôde tocar lá. Agora construiriam uma nova sala de shows lá – extremamente bonita!
Quando virá para o Brasil de novo?
Assim que eu tiver a oportunidade!
Quais são seus planos futuros mais próximos?
Estou em turné praticamente sem interrupção. Os próximos shows serão em Estocolmo, Hamburgo, Paris e em Hong Kong.
Rubem, obrigado por nos conceder a entrevista! Por favor, conte um pouco da sua história como músico para quem não o conhece!
Eu nasci em Salvador-BA, onde tive uma infância muito musical. Meu pai também é músico e me senti muito influenciado por ele. Comecei tocando com ele na igreja aos 6 anos de idade. Com 10 anos de idade mudamos para São Paulo onde tive contato com grandes músicos e professores. Gabriel Bahlis, um dos maiores baixistas do Brasil, foi o meu principal mentor. Aos 14 anos eu comecei a tocar na noite de São Paulo e em seguida comecei a viajar pelo Brasil com cantores, formei um grupo de música instrumental e comecei a fazer gravações em estúdio. Com o tempo mais artistas do Jazz e do Pop foram me conhecendo e eu fui ganhando mais espaço até me estabilizar como artista.
Você vive na Suécia atualmente – como foi parar lá?
Viver na Suécia não estava nos meus planos até ser pai. Suécia é um dos melhores lugares do mundo para ter uma família. Minha esposa é sueca, e tenho aprendido muito. Hoje estou muito feliz em viver na Suécia e tenho muitos amigos suecos e de vários outros países que vivem na Suécia, o que torna ainda mais incrível viver num país que, apesar de pequeno em população, tem uma diversidade cultural gigante.
O fato de viver na Suécia tem influenciado sua música de alguma forma? Caso sim, como?
Sem dúvida! A primeira composição que escrevi influenciado pela Suécia se chama “Rosendals”. Isso foi no verão de 2011 e eu fiquei impressionado com a beleza da cidade e a arquitetura em minha primeira visita; jardins por todas as partes em que caminhava e escrevi “Rosendals”. Desde então escrevi quase 100 composições aqui na Suécia e nelas eu tento descrever a leveza que eu sinto, a calma – muita lucidez nos acordes e nas melodias. São sensações que chegam facilmente até mim, no meu processo de composição, aqui na Suécia.
Como se compara a cena de jazz na Suécia com a do Brasil?
Tenho encontrado e tocado com músicos incríveis aqui na Suécia – todos muito bem preparados, com ótima leitura e ótima linguagem. O Jazz realmente pegou na Suécia e tive a oportunidade de tocar em vários jazz clubs e casas de cultura além de ministrar master classes em algumas universidades e escolas de musica. Tem sido maravilhoso! O jazz empolga as pessoas e os músicos são apaixonados pelo som e o publico abraça essa paixão.
No Brasil a cena de jazz está muito quente no país inteiro, mas especialmente falando, São Paulo sempre esteve na vanguarda exatamente por ser um eixo econômico muito forte. Músicos do Brasil inteiro migram para a capital paulista em busca de novas oportunidades deixando a cena cada vez mais quente. Você precisa ser muito criativo e profissional em um cenário como o de São Paulo. Para mim é muito difícil comparar as duas cenas porque apesar de estar vivendo há 3 anos na Suécia com certeza não tenho um olhar completo.
Como teve a ideia de convidar Nils Landgren para fazer um show com você em São Paulo?
Essa ideia já é antiga. Quando cheguei na Suécia eu conheci o trabalho de Nils e me identifiquei muito com a figura dele, além do grande musico que ele é. Eu trabalhei muitos anos com um dos maiores nomes do trombone do Brasil, o nome dele é Bocato, e eu também toco um pouco de trombone. A minha paixão pelo trombone vem dai, sinto uma proximidade muito grande entre o trombone e o baixo. Você tem que escolher bem as notas – não dá pra sair tocando qualquer coisa. Nils faz isso com uma perfeição incrível! Resumindo, eu só estava esperando uma boa oportunidade para poder convidar Nils para algum concerto até que o Sesc Belenzinho, na figura da Glauce Prado, me deu a oportunidade de apresentar esse show e tive a sorte do Mr. Red Horn (carinhosamente falando) ter a data disponível para esse show.
Costumam tocar juntos frequentemente?
Foi a segunda vez que tocamos juntos. A primeira foi no dia anterior em um workshop na Universidade Souza Lima em São Paulo. Nós nos encontramos também em Estocolmo para uma sessão de gravação do Balaio Quarteto que é um grupo que eu faço parte com Marco Bosco, Leonardo Susi e Adriano Magoo.
O que achou do show no SESC Belenzinho recentemente?
Eu amei estar no Sesc Belenzinho! O Sesc de forma geral é o melhor lugar para fazer um show hoje. Eles têm uma preocupação enorme com o conforto e a qualidade em que o público vai assistir o show, além de proporcionarem uma infraestrutura maravilhosa e ter uma equipe local de profissionais muito competente, possibilitando que o artista leve sua equipe e as duas equipes trabalhem juntas para obter melhores resultados e a melhor parte disso tudo é que o preço dos ingressos é realmente simbólico. Para mim tudo isso faz parte do show! Assim o show começou às 13h00 da tarde com a equipe técnica montando e terminou quando alguém da limpeza apagou a luz do teatro – é amor do começo ao fim.
Quais são seus planos futuros mais próximos?
Estou gravando meu disco novo e meus planos além da agenda que tenho até o fim do ano para cumprir é trabalhar esse disco e iniciar uma turnê de lançamento e divulgação desse show e apresentar esse mesmo show já com o disco gravado na Suécia.
Quando vem ao Brasil de novo para mais shows?
Chego ao Brasil 22 de maio para um show no “Parati Jazz Festival” e uma turnê com o Quarteto Balaio e o guitarrista norte americano Mike Stern. Essa turnê vai até 14 de junho e volto para Europa onde continuo viajando com diferentes projetos.
A entrevista com Nils Landgren foi feita em sueco e traduzida para o português. O texto original continua sendo o sueco.
Fotos: Paulo Rapoport